Para responder esta questão com honestidade, precisamos nos abstrair da fé e analisá-la sob o ponto de vista das ciências. Pelos menos três campos científicos atuam na determinação de tal fato: a História, a Arqueologia e a Paleografia, que é o estudo de textos antigos.
Do ponto de vista histórico, temos que a igreja romana dominou o mundo medieval, mergulhando-o nas trevas espirituais e intelectuais, proibindo livros, queimando-os e até mesmo forjando documentos para confirmar seu reinado sombrio. Este é, frequentemente, o motivo de as pessoas crerem numa suposta adulteração das Escrituras. Entretanto, o próprio desenrolar da história confirma que tal coisa, incrivelmente, não aconteceu.
A primeira evidência se sustenta pelo fato de a igreja romana proibir o uso comum da Bíblia, reservando-a apenas aos clérigos, a quem pertencia a autoridade de interpretá-la. Durante mil anos (até o século XVI), as cópias da Bíblia, que eram feitas à mão, só podiam ser encontradas nos mosteiros e arquivos particulares dos líderes eclesiásticos. Diante disso surge uma outra pergunta: pra quê adulterar um texto que ninguém lê, a não ser os que teriam o poder de fazê-lo? Além disso, é fato comprovado que cópias de manuscritos antigos existiam, ou em locais fora do domínio da igreja ou enterrados pelo próprio tempo. O que nos leva à uma segunda base de evidência para a não-adulteração da Bíblia.
A Arqueologia vem trazendo à luz manuscritos bíblicos desde, pelo menos, o século XVIII. Os achados mais importantes dizem respeito à descoberta dos chamados Manuscritos do Mar Morto e de pergaminhos e códices do Novo Testamento anteriores à Idade Média, sendo o mais importante o Codex Sinaiticus. Em termos de precisão do texto do Antigo Testamento, jamais houve críticas veementes, pois a tradição dos copistas judeus exigia que o texto fosse copiado letra por letra (ao invés de palavra por palavra) e um manuscrito errado era totalmente queimado antes que o trabalho recomeçasse. Assim é que, os textos do Antigo Testamento encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto, datados do período antes de Cristo, confirmam que nosso texto atual sofreu pouquíssimas alterações, a maioria por erro humano.
O maior problema poderia residir nos textos do Novo Testamento, já que a igreja romana é de confissão cristã e, portanto, poderia ter se utilizado da autoridade apostólica para seus próprios fins. De fato, isso aconteceu, mas não por meio de adulteração das Escrituras. O citado Codex Sinaiticus data do século IV, de um período quando a Igreja ainda não havia se unido ao Império e dado origem à Igreja Católica Romana. Portanto, por ser um período considerado de “doutrina pura”, não há porque se crer que tais manuscritos fossem adulterados. Além disso, existem hoje 5400 manuscritos do Novo Testamento na língua original (o grego), completos ou fragmentados, datados de cerca do ano 125 em diante (ou seja, menos de um século depois dos autógrafos) o que o torna o livro antigo mais bem preservado da história.
Sobre este assunto há muito o que falar, mas estas informações são suficientes para evidenciar que possuímos hoje ótimos originais hebraicos, aramaicos e gregos. Vale ressaltar que existem traduções ruins da Bíblia, mas isto não entra no mérito desta questão.