
Há cerca de 1800 anos atrás, Cristianismo e Judaísmo passaram a se digladiar, gerando um conflito religioso e ideológico que perdurou (e em alguns aspectos ainda perdura) ao longo dos séculos. Entretanto, nem sempre foi assim. Nos primeiros anos da fé cristã, todos os discípulos de Jesus eram judeus. Se não todos, a grande maioria era zelosa pelas suas tradições, atendendo aos cultos no templo de Jerusalém, frequentando as sinagogas aos sábados e guardando os preceitos descritos na Torá de Moisés. Mesmo depois, quando não-judeus passaram a crer, o número de judeus na igreja cristã era considerável, sendo eles seus principais líderes até pelo menos o final do primeiro século.
Uma vez que a fé cristã nasceu num ambiente cultural judaico, sendo o próprio Jesus um judeu, assim como todos os seus apóstolos; e para além disso, sendo judeus todos os escritores dos livros e cartas do Novo Testamento, surge um questionamento: o quanto o background judaico desses homens influenciou as bases da fé cristã? Quanto de “Judaísmo do primeiro século” há no conteúdo do Novo Testamento? E o quanto essa influência, se existir, influência na nossa compreensão do Novo Testamento e da fé cristã como um todo?
Neste ensaio, procuro demonstrar como uma compreensão mais profunda da influência judaica do primeiro século pode ajudar a solucionar problemas, trazer um melhor entendimento e auxiliar na exegese dos textos do Novo Testamento. Colocando de volta Jesus e os Evangelhos, os apóstolos e em especial Paulo em seu contexto judaico original pode nos oferecer uma perspectiva mais clara do que é dito, da real intenção por trás de algumas doutrinas e mais. O objetivo é que nossa hermenêutica seja mais assertiva e que honremos um legado que nos foi transmitido pelos apóstolos, mas que na verdade nasceu antes mesmo deles.