Da Vida Após a Morte

Ao que me parece, todos os crentes creem que, após a morte, segue-se uma nova vida. Particularmente para nós, discípulos de Jesus, existe não apenas a crença, mas a esperança, de que a morte não é o fim, mas um recomeço. Entretanto, o quanto sabemos sobre o que se dará conosco no pós-morte? Ou melhor, o que as Escrituras têm a nos ensinar a este respeito?

Mas antes, é bom separarmos fato de especulação. Muitos são os livros e autores que falam da vida no “céu”, mas carecem de embasamento bíblico. Não nos interessa apenas imaginar coisas, pois isso seria apenas mais uma obra de ficção ou, pior, mais uma doutrina religiosa sem fundamento na verdade. Ao contrário, vamos no ater apenas à revelação  das Escrituras e ao que pudermos, com base nelas, concluir.

Algumas coisas estão reveladas, enquanto outras não estão. Comecemos pela questão de se haver uma vida após a morte. Jesus chama isso de vida ou morte eternas. Algumas passagens revelam esta doutrina bíblica, mas nenhuma é mais contundente do que a resposta dada pelo Senhor aos Saduceus – os quais não criam na ressurreição. Ele disse: “Por que Deus chama a si de Deus de Abraão, Isaque e Jacó? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos!” (Mc 12.27). Em outras palavras, Jesus está dizendo “Para nós, Abraão, Isaque e Jacó estão mortos, mas para Deus, eles estão bem vivos!”. O corpo que temos na terra é apenas uma das representações de nossa vida; quando o abandonarmos, nosso espírito será transportado para um outro tipo de vida.

O estado da alma

Ok, a morte não é o fim, mas e depois? Alguns crentes acreditam que, ao morrermos, entramos em uma espécie de coma espiritual e só acordaremos dele no dia do Juízo Final. Outros acreditam que os mortos já estão gozando de algum tipo de gozo ou sofrimento. O que dizem as Escrituras? Jesus contou uma parábola em que um homem pobre chamado Lázaro morria, assim como um outro homem muito rico. Lázaro foi para o seio de Abraão, mas o rico entrou em sofrimento no Hades. Estando em tormentos, o rico pediu a Abraão que Lázaro molhasse a ponta de sua língua com água fresca, mas Abraão respondeu que isso não era possível (Lc 16.19). Particularmente, creio que todas as palavras que Jesus proferiu eram carregadas de verdade e significado, e que ele jamais recorreria a um fato irreal para nos ensinar a verdade. Sendo assim, creio que podemos considerar esta parábola como uma boa fonte de informação sobre a vida após a morte antes de Cristo.

É bom que se esclareça que Jesus está se referindo aqui ao Hades, o local onde os mortos permaneciam antes de sua morte e ressurreição, e não ao Céu e ao inferno. Existem evidências bíblicas que demonstram isso e você pode saber mais a respeito neste outro artigo. O que nos interessa analisar aqui é a questão de que Lázaro, depois da morte, já está em estado de gozo, enquanto o rico, mesmo ainda não estando no inferno (lago de fogo), já está em sofrimento. Será que Jesus está nos ensinando que não existe tal coisa como um “sono da alma”, mas que os mortos mantêm suas consciências?

Outra passagem que parece corroborar a ideia é a da transfiguração. Estando no alto do monte com três de seus discípulos, Jesus muda de aparência e surgem ao seu lado Moisés e Elias. Bem, Elias foi arrebatado e não passou pela morte, mas e Moisés? Vamos pela linha de suposição que diz que Moisés também não passou pela morte, haja vista que ninguém nunca viu seu corpo ou sepultura. Mesmo assim temos aqui dois homens que, ao tempo de Jesus, não viviam mais como meros seres humanos – e nem podiam, pois o mais ‘novo’ já deveria contar seus 800 anos de idade – e, no entanto, estavam ali, totalmente conscientes e conversando com Cristo. Parece ilógico pensar que eles estavam em um “coma espiritual”, foram acordados para irem ter com Jesus e depois voltaram à sua hibernação.

Onde estarão os mortos?

Se os mortos estão conscientes então, estarão os justos no Céu, enquanto os ímpios estão no inferno? Sim e não. Estando na cruz, Jesus prometeu a um dos ladrões crucificados com ele que naquele mesmo dia eles estariam juntos no Paraíso (Lc 23.43). O Paraíso, na teologia hebraica, equivale ao “seio de Abraão” citado na parábola anterior. É um lugar onde os justos aguardariam a ressurreição final. Alguns acreditam que a passagem de Jesus na cruz não esclarece muita coisa, argumentando que a passagem pode ser lida “em verdade te digo hoje: estarás comigo no Paraíso”, pois, em grego, não temos vírgulas. Fosse este o caso, Jesus estaria simplesmente dizendo ao homem que um dia qualquer eles estariam juntos no seio de Abraão. Entretanto, alguns estudiosos da Bíblia, profundos conhecedores das línguas originais, já provaram que a frase não pode ser traduzida desta forma, especialmente por dois motivos: (a) a expressão “em verdade te digo hoje” não é comum no grego ou hebraico e (b) Jesus nunca a utilizou em parte alguma dos quatro Evangelhos. Em resumo, o que Jesus quis dizer ao homem foi “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Disso decorre que, ao morrerem, os justos estarão com Jesus.

Quanto aos ímpios, existe uma ressalva. A Bíblia afirma que (a) o inferno (o lago de fogo) foi criado para o Diabo e seus anjos (Mt 25.41) e que (b) o Hades será lançado no lago de fogo, após o Juízo Final (Ap 20.14). Isso implica dizer que os ímpios ainda não estão no inferno, o que faz perfeito sentido, pois primeiro eles serão julgados pelos seus atos e somente depois serão lançados no lago de fogo. Portanto, eles têm de estar em outro lugar, aguardando o dia do Juízo. Nossa melhor conjectura é a de que os ímpios estão no Hades, estando já em algum nível de sofrimento (assim como o rico da parábola). Neste tópico, concluímos então que, ao morrerem, os justos vão para a presença de Jesus no Paraíso, enquanto os ímpios permanecem no Hades, em aflição, aguardando o julgamento.

Vale a pena abrir um parêntese aqui sobre o julgamento das obras. Fica a impressão de que os justos não precisarão ser julgados, afinal já estão salvos no Paraíso. Porém, não é bem isso o que ocorrerá. Paulo ensinou que todos nós, os justos, “devemos comparecer diante do tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba de acordo com o que tiver realizado” (2Co 5.10). O Tribunal de Cristo não é o Juízo Final do Grande Trono Branco (Ap 20.11), mas sim o momento em que todos os justos serão julgados e receberão a recompensa por seus atos. Mais sobre isso, leia este artigo. Nosso julgamento será feito à parte, mas não deixará de ocorrer.

A ressurreição e o arrebatamento

Ao contrário do que muitos críticos afirmam, a doutrina do arrebatamento não foi criada por pregadores protestantes, muito menos pelo apóstolo Paulo. Jesus fala do arrebatamento em Mateus 24.39,40 e Paulo simplesmente complementou o ensino. Dentre as coisas que ele fala, destaca-se a questão de os mortos serem ressuscitados primeiro e, logo em seguida, os que estiverem vivos serem arrebatados (e transformados) para o Céu com Cristo (1Ts 4.15-17). Esta ressurreição é a primeira (Ap 20:5). Ocorrerá apenas para os justos, antes da vinda do Senhor sobre as nuvens (Mt 24:30;Ap 1:7;Ap 19:11-16). Sendo assim, num dado momento do futuro, todos os justos, desde Adão até aquele dia específico, serão ressuscitados e levados ao Céu à presença de Deus. Mas então surge a questão: ora, eles já não estavam na presença de Deus no Paraíso?

O que acontece é que hoje, os mortos estão em corpos espirituais, invisíveis, mas na ressurreição, como o próprio nome sugere, eles ganharão vida novamente, em um corpo espiritual. Nossa referência quanto a isso é o próprio Senhor Jesus. Quando ele ressuscitou, tinha um corpo aparente, embora não fosse mais um corpo meramente humano (Lc 24:36-43; Jo 20:17). Paulo também afirma que nosso corpo espiritual será como o corpo de Cristo ressurreto (1Co 15:44,49). Portanto, o estado eterno dos justos não é viver no Céu como espíritos, mas, a partir de um dado momento, serem revestidos de um corpo espiritual.

O Céu e a eternidade

O que se seguirá então à ressurreição dos mortos e à transformação dos vivos? No Apocalipse encontramos a revelação de que o Senhor descerá dos Céus, juntamente com os santos, e instalará o Reino de Deus sobre a terra (Ap 20:1-5). Muitos torcem o nariz para isso, preferindo acreditar que se trata de alguma metáfora ou algo parecido. Entretanto, encontramos evidências desta verdade, tanto no Antigo Testamento (Zc 14:4-9), quanto no ensino apostólico (1Co 15:23-28). O fato de o Senhor voltar à terra para reinar sobre ela encaixa-se perfeitamente no quadro da ressurreição, pois se os mortos não voltassem à terra, qual seria o motivo de terem um corpo espiritual?

Sendo assim, nossos corpos espirituais nos capacitarão a retornarmos à “vida” e reinarmos com o Senhor Jesus durante o Milênio. Como será esse tempo não está muito claro nas Escrituras, mas parece que o objetivo de Deus é restaurar a terra e purificá-la para o que virá depois. Novamente o Apocalipse nos informa sobre esse tempo: “vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 20:2,3). Em outras palavras, na eternidade não haverá apenas Céu, mas Céu e terra serão uma coisa só, e Deus estará conosco! Vale ressaltar que o Juízo Final acontecerá imediatamente antes dessa fusão entre Céu e terra. Portanto, os ímpios já terão sido lançados no lago de fogo e somente os justos desfrutarão desta nova terra.

Conclusão

Reunindo todas as informações bíblicas, esta é a conclusão a que chegamos quanto à vida pós-morte:

a) ao morrerem, os justos vão para a presença do Senhor no Paraíso, enquanto os ímpios permanecem presos em algum lugar (possivelmente no Hades), já em algum nível de tormento, aguardando seu julgamento;

b) no dia da ressurreição, apenas os justos ganharão novos corpos espirituais, semelhantes ao de Cristo ressurreto, e serão julgados a fim de receberem suas recompensas;

c) quando Jesus voltar à terra para reinar mil anos, os justos que foram ressuscitados (ou arrebatados) voltarão com ele em seus corpos espirituais;

d) ao final dos mil anos, se instalará o Juízo Final, quando todos os ímpios serão ressuscitados para enfrentarem o julgamento condenatório; após lidas suas sentenças, serão lançados no lago de fogo, juntamente com Satanás e seus anjos;

e) após o Juízo, o Céu e a terra serão uma só habitação, e os justos viverão em corpos glorificados com o Senhor eternamente, desfrutando de todas as maravilhas que Ele está preparando para eles.

Pois, nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem nunca penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 1.9)