História do Cristianismo

Breve história do Cristianismo

Cristianismo é o termo com que se convencionou chamar a doutrina de Jesus Cristo. Em meados do ano 27, Jesus de Nazaré passou a pregar as Boas Novas de arrependimento, dando continuidade à mensagem de João, conhecido como “o que batiza”. De acordo com as profecias contidas nas Escrituras hebraica, Deus haveria de mandar um homem “ungido” – o Messias – para pregar o arrependimento dos pecados e a salvação. Além disso, ele seria de natureza divina, realizando curas e sinais que comprovariam sua mensagem. Jesus viveu todas essas profecias, cumprindo assim o propósito de Deus de providenciar o pagamento pelos pecados da humanidade.

Na intenção de propagar sua mensagem, Jesus chamou para si discípulos que o seguissem e aprendessem dele as verdade do Reino de Deus. Dentre esses, selecionou doze que viviam com ele e que, à parte o traidor, dariam prosseguimento ao seu ministério. Cinquenta dias após sua ressurreição dos mortos, o Espírito Santo de Jesus foi enviado aos discípulos, que passaram a formar a assembléia (igreja) de Cristo. A partir de então, iniciou-se uma propulsão missionária que alcançaria o mundo inteiro e que, a longo prazo, moldaria toda uma sociedade: a nossa.

Inicialmente, esta fé sequer era chamada de Cristianismo. Sendo quase completamente hebréia e, inicialmente, restrita ao território israelita, a comunidade dos discípulos era chamada pelos líderes judeus de “seita dos nazarenos” (At 24.5). Por outro lado, os crentes lhe davam o título de “O Caminho” (At 19.9), em referência à afirmação do Senhor descrita no Evangelho de João 14.6. Era natural para os judeus considerarem que os crentes em Jesus se constituíssem numa seita judaica – como o eram, por exemplo, os essênios -, haja vista que eles não haviam rompido com a fé hebraica e sequer negavam o culto no templo ou a observância à Lei de Moisés, ainda que cressem em algo que a liderança considerasse um ensino herético. Somente quando o Evangelho chegou aos gentios (os não-judeus) é que o termo “cristão” (que, ao pé da letra, significa “aquele que é de Cristo”) foi cunhado. Ainda assim, a fé em Cristo permaneceu como algo relacionado à religião judaica, uma vez que os cristãos cultuavam o Deus judaico, utilizavam as Escrituras judaicas e viviam um estilo de vida totalmente judaico.

A fé cristã depois de Cristo

Após a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos (os doze, mais alguns outros posteriormente escolhidos) deram continuidade à sua obra, conduzindo e instruindo a comunidade dos discípulos. Até o final do primeiro século a igreja foi amparada pela tutela apostólica, que legou a nós seus escritos através dos livros do Novo Testamento. De certa maneira, podemos considerar que, assim como o Senhor não deixou a igreja desamparada, enviando o Espírito Santo para guiá-la através dos apóstolos, os apóstolos legaram à igreja de todos os séculos seguintes o corpo de doutrinas que defenderam com suas próprias vidas. Hoje temos no Novo Testamento a base para uma doutrina sadia e fiel àquela pregada pelo Senhor dois mil anos atrás (leia mais sobre isso na sessão Doutrina).

A partir de meados do ano 40, a igreja passou a sofrer perseguições assoladoras, ora pelas mãos dos judeus, ora pelas dos romanos. Entre o segundo e o quarto séculos depois de Cristo, a igreja foi duramente perseguida, com muitos mártires. Entretanto, foi justamente nesse período de tanto sofrimento que a mensagem do Evangelho mais frutificou. Os gentios passaram a aderir ao Caminho, impressionados com a fé e o testemunho daqueles que morriam das formas mais terríveis cantando e louvando ao Senhor de suas almas. Assim foi que, por volta do século IV, a fé cristã – agora sim, chamada de “Cristianismo” – havia se tornado uma fé tão notória quanto o judaísmo, de forma que os políticos populistas da época não mais puderam ignora-la.

O surgimento do Catolicismo Romano

Quando Constantino conquistou o trono de Roma, sua mãe já era cristã e ele concedeu aos seus irmãos de fé um alívio de suas penitências. Percebendo a força da “nova religião”, Constantino passou a namorar o cristianismo – embora, oficialmente, nunca tenha sido seguidor de Jesus – e concedeu liberdade de culto aos cristãos. Na verdade, segundo se especula, ele buscava mais o apoio dos líderes da igreja romana do que, propriamente, desfrutar das bênçãos do Evangelho. Com esta liberdade, a igreja cristã livrou-se das perseguições e passou a receber assistência e benefícios do Imperador. Grandes igrejas foram construídas, bispos não pagavam mais impostos e o bispo de Roma passou a ter acesso constante à sala do Imperador.

Aliás, já desde os dias em que a fé cristã vivia na marginalidade, o bispo de Roma desejava impor sua vontade às outras igrejas. Temos relatos do século III que falam de algumas disputas doutrinárias que envolveram igrejas na Ásia, sobre as quais o líder romano tentou impor sua decisão. Entretanto, sua atitude não foi  acatada pelas demais igrejas, que viam no bispo de Roma um entre iguais. Porém, com todas as regalias dadas pelo Imperador, e ainda mais depois, quando outro Imperador, desta vez Teodósio, decretou que o cristianismo seria a religião oficial do Império, em 395, a primazia do bispo de Roma estabeleceu-se, mas não de forma unânime. Foi assim que, historicamente, surgiu o que hoje se conhece como Igreja Católica Apostólica Romana.

A partir desse período, a igreja cristã, que já não ia bem das pernas por ter começado a se envolver com o poder temporal e a se apaixonar por ele, sofreu um tremendo declínio espiritual. Nos anos seguintes, não apenas a fé cristã foi convertida em um mero rito religioso, como adotou conceitos completamente avessos à doutrina de Jesus, como a temos nas Escrituras. Um dos motivos disso foi, justamente, a conversão forçada de todo o Império ao Cristianismo. As pessoas haviam “se tornado cristãs” da noite para o dia, mas na verdade nunca haviam decidido seguir a Cristo. Para tentar resolver os problemas decorrentes dessa loucura, a igreja romana passou a “converter” festas pagãs em dias santos cristãos e a “traduzir” cultos pagãos em idolatria cristã. Maria passou a fazer parte do panteão divino, já que os romanos, especialmente as mulheres, cultuavam a deusa-mãe. O culto ao Sol, tendo o solstício de inverno (25 de dezembro) como dia máximo em seu calendário, foi atribuído ao nascimento de Jesus, que, afinal, é o “Sol da Justiça”… O mundo adentrou, assim, no período mais negro de sua história, sendo reconhecido pelos historiadores como A Idade das Trevas!

Os cismas da “cristandade”

No Concílio de Nicéia, presidido por Constantino, em 325, ficou decidido que a igreja cristã seria organizada em cinco patriarcados: Jerusalém, Antioquia, Roma, Alexandria e Constantinopla. Com as tensões que se seguiram à exaltação do patriarcado romano sobre as demais igreja cristãs, e ainda mais quando o poder político do Império foi transferido de Roma para Constantinopla, as igrejas orientais passaram a não mais aceitar a orientação do bispo romano (agora chamado de Papa). Assim, em 1054, as igrejas do oriente decidiram separar-se da comunhão e acabaram por formar a Igreja Ortodoxa Oriental. Em termos de doutrina, em quase nada diferem da Igreja Católica Romana, mas não aceitam a liderança papal.

Em meio a tudo isso, o Cristianismo bíblico nunca deixou de existir. Por todo o período da Idade Média, muitos grupos se opunham ao domínio terrorista da igreja romana, mesmo que não se manifestassem por medo de serem eliminados. O monasticismo surgiu justamente da recusa, por parte de muitos cristãos, em viver sob os ditames da sociedade governada pela Igreja. A lista de hereges que foram perseguidos e mortos pela Igreja é bastante extenso, ainda que nem todos eles vivessem a verdadeira fé.

Depois de quase mil anos reinando absoluta em sua heresia travestida de cristianismo, e depois de calar as vozes de muitos que tentaram trazer de volta a verdadeira doutrina de Cristo – entre eles John Wycliffe, Jan Huss e William Tyndale -, a Igreja sofreu um tremendo revés, quando Lutero, um monge, se opôs às suas práticas nefastas e recebeu o apoio do rei da Alemanha. Teve início aí a Reforma Protestante, que libertou o mundo do poder de Roma e permitiu que a Palavra de Deus fosse livremente distribuída e estudada por todos – sendo o primeiro livro da história a ser impresso. A partir de então, o cristianismo deu um tremendo passo rumo a uma fé mais pura e próxima daquela legada pelos apóstolos do Senhor.

Entretanto, não devemos considerar que a Reforma foi tudo o que se esperava dela. Muitas coisas essenciais não sofreram mudanças significativas. Exemplo disso são as atitudes dos próprios reformadores no que diz respeito à violência contra os que pensassem diferente ou tradições e teologias que não foram abandonadas de todo. Não é do desconhecimento de ninguém as atitudes que, tanto Lutero quanto Calvino, tomaram contra os anabatistas ou o teólogo Miguel Servet. Porém, levando-se em conta a prisão em que a fé cristã se encontrava e a realidade do mundo como um todo, Lutero, Calvino, Zwinglio e os demais reformadores certamente foram instrumentos de Deus para que a humanidade se visse livre do jugo religioso da Igreja Católica.

O cristianismo contemporâneo

Com a Reforma, igrejas protestantes surgiram em muitos países da Europa, sendo que, em alguns destes, surgiram igrejas nacionais como o Luteranismo na Alemanha, o Calvinismo na Suíça, a Igreja Anglicana (também chamada Igreja da Inglaterra), a Igreja da Escócia (que se tornou a Igreja Presbiteriana), entre outras. Anos mais tarde, surgiram reformas dentro da reforma, marcadamente na Igreja Anglicana, que propunham um maior afastamento das doutrinas romanistas. Daí surgiram a Igreja Congregacional, a Igreja Batista e a Metodista. Posteriormente, surgiu o pentecostalismo, propondo uma nova reforma, desta vez em termos teológicos, ensaiando um retorno à dispensação dos milagres e do poder sobrenatural do Espírito Santo como está descrito no NT. Em sua maioria, os movimentos pentecostais vieram das igrejas batistas.

Percebe-se, ao analisar a história do cristianismo (que se funde à própria história da igreja), que a maioria das perseguições e cismas nasceram de disputas teológicas. Algumas, de fato, se fizeram necessárias para evitar que erros doutrinários fossem disseminados no seio da igreja, porém, em grande parte, as discordâncias residiam em motivos fúteis. Além disso, não podemos desconsiderar a prepotência de líderes que queriam que suas idéias fossem impostas à maioria, o que, naturalmente, gerou também algumas divisões no seio da fé cristã. Hoje, a quantidade de denominações cristãs é absurda, o que tem levado a uma constante degradação da doutrina cristã.

Tem-se proposto algumas soluções para isso, como um retorno ao judaísmo dos apóstolos ou a extinção dos locais de reunião pública. Fato é que a fé em Jesus cresce em todo o mundo, ainda que em denominações não tão comprometidas com as Escrituras. Neste ponto, talvez valha ressaltar um alerta de Jesus: “aquele que não é contra mim, está a meu favor”. O importante é que, dois mil anos depois, Cristo ainda é pregado.